Olhou-me nos olhos por um breve momento
Descobriu-me e descortinou-me os sentimentos
Fez deles, em instantes, janelas abertas
Com paisagens densas, complexas e concretas
Talvez um pouco demais, pra quem só as queria olhar

Suscitou-me os sonhos, e os fez voar
Deu-lhes asas para escapar pela janela
Levando consigo minha existência e tudo que há nela
Num prazo minimo e imperceptível de um olhar

Como me inveja a perspicácia dos seus olhos
Que corrói-me os laços, os traços e os ossos
Levam-me tudo, até o que eu não controlo
Que me deixam sem nada num só piscar
Num só picar dos seus, olhos.
A casa

A vida está batendo em minha porta
Mas eu não encontro a chave
A casa ficou uma bagunça
E eu ainda não achei quem me ache
No meio disso tudo
Um furacão
Eu lançada ao chão
Ainda não achei quem me ache.

Já me cansei da velha mobília
Chega de nostalgia!
Quadros velhos
Paisagens no teto
Uma foto alegre
E a vida que se segue
Quero jogar tudo fora
Achar a minha chave
E abrir a porta.





Em tudo o que eu sou, eu sou sozinha
Minha cabeça é arma carregada
E sabe escolher a fio em quem dispara
E nunca para! Eu estou sozinha.

Meus olhos são jures sem misericórdia
Que caçam erros e causam discórdia
É um verde enganado e embaçado
De lembranças e memórias do passado

Estou sozinha. Eu olho, e ninguém do lado
Eu tento gritar o que sinto ao mundo
Mas no meu vazio tudo é silenciado
Eu estou sozinha,e isso é só mais um desabafo...






Para que lhe serve as palavras?
Discusar e vociferar o amor
Gritar aos quatro ventos com tanto fervor
Para no fim esquece-las e condena-las ao nada?

As palavras não são folhas soltas ao vento
Não são enfeites para lhe servir de ornamento
Não use as palavras tão levianamente
Guarde-as. E só diga o que deveras sente

Pois quando ditas, nem mesmo Éolo as leva
Essa sossega e repousa no coração de quem as espera.
Não deveria ter subido tão alto, longe do chão
Mas um anjo alado conduzia-me, ao som de sua canção
Eu ouvia alguém de baixo me pedindo pra voltar
Me diziam ser arriscado, que não era certo voar

Só que eu estava encantada ao som da melodia
Aquela história de amor, e tudo que o anjo dizia
O belo anjo que segurava-me a mão e me levava
Fazia-me levitar não só os pés, mas também a alma

Foi quando eu me vi perdida, sem saber voltar
Por que me trazer tão longe, se não queria ficar?
Cadê o anjo de olhos raros que me puxou pela mão?
Eu sei, não deveria ter subido tão alto, longe do chão.




Eu te escreveria as palavras mais bonitas
Pra ornar-te e fazer companhia
Segurar-te pela cabeça e pela poesia
Só que sei que nada corresponderia
A tua complexidade, majestade e alegria

Nem todas as palavras e rimas perfeitas
Descrever-te-iam com a exatidão aceita
Tu és mais, e nada me deixaria satisfeita
Então desisto, e declaro esta poesia como feita


Não preciso da sua verdade
Não me respeite como santa no altar
Já que a mim não concede devoção
A devoção merecida das santas,
Me de só as mentiras que valham a pena
Aquelas que já vociferam à Maria Madalena

De que me vale todas as cordialidades
Se eu fico sozinha nesse fim de tarde
Nunca prometi não amar como Ártemis
Pois para isso é necessário serenidade
Aquilo que eu perdi
Só por te ver e fazer sorrir

Não me julgue tão leviana e baixa
O que lhe peço, é a parte que me encaixa
Do seu excesso de zelo e falta de amor
Da minha falta e orgulho e excesso de dor.

Liberdade

Você me disse pra ir embora
Sentir o gosto da chuva lá fora
Mas quem vai me cuidar?
Eu não sei o caminho e onde pisar

Você pediu pra eu não perdoar
Ir embora, e nunca mais voltar
Mas e se eu me perder?
E nunca mais, mesmo, voltar pra você

Você me deixou pra eu ser livre
Pra eu sair e me encontrar
Mas essa liberdade eu já tive
O que eu queria, era ser livre pra sonhar...

Seu amor tem cara de feriado
Todo esse marasmo
Essa calma entediante
Essa esperança de um dia bom

Você é a quebra de expectativa
É minha agonizante atonia
É o velho gosto de nostalgia

Seu amor tem caráter pacificador
Tanta calma, tanta alma
Tantas Luas e estrelas
Para te admirar e invejar

Que nem todas as Luas e estrelas
Refletem e fazem refletir como você
Que nem todas as Luas e estrelas
Correspondem ao seu amor de feriado.

Seu amor e a minha ressaca
Meu cansaço, minha falta de vontade
É tudo aquilo que eu não aguento mais
São todos os clichês
Que eu não deveria acreditar
Mas acredito só por você

Não queira satisfazer ao mar e a terra
Não queira ama-los por igual
Todo amor é ingrato e desleal
Se não escolhe o que lhe espera

E não os entenda como complementares
Nem a terra e nem os mares
Saiba que se os dois por hora se encontram
É só porque, por hora, os dois o amam

Não deixe que o mar chore
Não deixe que a terra desabe
Não cause nenhuma catástrofe
Catástrofe assim não são naturais
Tal como seu amor controverso
Catástrofes assim não são naturais

Natural é o amor unilateral
é a fidelidade incondicional
Se não o sente de forma igual
Abandonar mar e terra é o ideal

Voe pelo céu!
Talvez lá encontre felicidade
Voe e desfrute de liberdade!
E quando encontrar a verdade,
Pouse onde quiser
Mar e terra o esperam
Seja onde estiver.
Versinho emprestado

E se eu contasse cada letra escrita e declamada
Cada verso perdido e encontrado
Recitado com a eloquência dos amantes
Soprando aos quatro ventos
Um amor sentido e escondido
E se eu contasse!
Haveria algum que não fosse teu!

De tudo o que eu escrevo
Cada linha e entrelinha
Como posso ter orgulho,
De algo que não é meu?
É tudo teu, é tudo teu!


De que me vale as rosas e os cristais
Se as rosas murcham
Se os cristais se quebram
De que me vale todos os versos e velas
Versos velhos e enferrujados
Velas que velam e afundam minha embarcação

Eu quero é ver seus olhos abrirem no clarão
Seus pés pisarem só no meu chão
Eu quero você dançando a minha canção 
Pedido de padaria

Queria ter asas de corvo
Plainar sobre os céus e sobre os olhos
E ter nos olhos, a visão de uma águia
Ver sem pretensão além do imaginável

Queria ter a leveza da bailarina
Que gira e deslisa em qualquer superfície
Rodopiar por entre as pedras no caminho
E parar com a pose inerente dos vencedores

Queria a simplicidade do realejo
Ler minha sorte e fortuna numa folha de papel
Não mais me questionar sobre o futuro
Ter a vida na palma das mãos

Queria do meu enredo uma história de cordel
Rimas perfeitas em total sintonia
Aventuras e desventuras compostas em armonia
No meu conto de vida, sendo eu a protagonista

E por fim, queria ter o mundo!
Todo ele e mais nada
Sendo assim, tendo tudo
Eu conquiste por ultimo paz
Toda ela e mais nada.