Adônis, o filho do pecado
Na natureza nascido e finalizado
Rogo-te não o sangue, mas as flores
Anêmonas fruto do teu amor metamorfoseado

Afrodite, causadora de guerra
Impetuosa ao se opor a Atenas e Hera
Rogo-te não a beleza, mas os amores
O auge e o caos da tua Era

Apolo, o olho dos céus
Tem o Sol e teus raios como teu troféu
Rogo-te não a luz, mas a eternidade
Infinitos crepúsculos, tua imortalidade fiel

Ariadne, um rolo de lã e tua sagacidade
Nem mil labirintos atrapalham tua vontade
Rogo-te não o amor de Teseu, mas tua coragem
De mulher singular, jamais limitada pela mortalidade

Ártemis, em cada nova fase, uma versão
Libertada das amarras do amor e tua prisão
Rogo-te ,por fim, não a Lua, mas o isolamento
E toda a graça que traz consigo a solidão





Liberte-se,viva seus sonhos e seja feliz!
Abra os olhos e veja além do seu nariz
A verdade está muito além do que se diz
Ela é só a poeira de mitos escritos de giz


Peço uma dose de liberdade
Mas assim
Talvez tenha chegado o meu fim
Estou cansado de tudo,
Da minha vida sempre cinza
Sim
Talvez hoje eu nem saiba mais voar
Mas um dia devo ter a chance
Assim eu quero
Assim eu espero



Só preciso das asas certas
Que vejam o vento, e logo estão abertas
À um mundo menos cinza
As descobertas
À tudo que eu espero
À tudo que se faça concreto

Acreditei em tudo que se diziam
Acreditei, em todo fim do mundo que não te enxerguei
Ouvia-se sempre frases clichês
Muito fantasioso
Sempre serei, um velho tolo e morto
Com uma imaginação de criança
Sim, sempre serei


E quando for repousar, cansado 
Meu travesseiro ouvirá todos os meus sonhos perdidos
Com expectativa criados, porém nunca cumpridos
E eu hei de sonhar novamente mil sonhos
À espera de novas asas
E de um mundo mais colorido


Um novo fado
Uma nova espera interminável
Já diria Machado
Matamos o tempo, o tempo nos enterra
A pilosidade de minha cama ouvirá
Que eu quero um amor
Que eu quero uma paz
Que eu quero uma paz que perturba
Não posso ter os dois?
Pois
A vida me deu os dados
Mas não sei como jogar


Por fim jogo os dados à messa
E espero um novo jogo começar.


Ludmila Cunha e Iago Pereira




Um canto, um pranto, um encanto
É tudo poesia
Desde a contradição do palhaço que chora
À ilusão do bêbado que ria

Um laço, um passo, um abraço
É tudo poesia
Desde a indelicadeza da vida e sua imperfeição
À aquele que a descreve, em rima e canção

Terça-feira

Eu nem sei que dia é hoje
E nem do que será
Entreguei-me a sorte
Perdi o norte
E nem hei de procurar

Pode ser ser que seja terça
E também pode ser se não seja
Todo dia é igual

Uma conversa cordial
Um amor meio banal
Um acidente no sinal
E eu: nem bem, nem mal

No meio de tantas promessas
De verdades controversas
De tantas palavras e pouca conversa
Prefiro fechar os olhos
E manter-me quieta, sem pressa.


Raul

Lá de longe te avistei
Um jeito esquivo e arredio
Abriu aos poucos um sorriso
Raiou-me desvendado, pequeno Raul!


Rogo à Ártemis que te dê muitas luas
À Apolo que te estime e te faça belo
Único e comum dentre os que te cercam
Louvores e graças ao estimado Raul!

As fáceis definições  não o saciava
Preferia o exotérico, o mistério e a raiva
Queria a luta, a contradição e a guerra 
Plantava a metamorfose, e regava sua terra

Nem os bons, nem os maus
Nem os céus, nem os mares
Preferia a ausência ou o caos
O triunfo e a dialética de Ares

Nunca sossegava, nunca se satisfazia

Me cansei de ordenar paz ao meu cérebro
Por fim desisti, e comecei a obedecer o que me dizia.


Ratos e homens, ratos ou homens

Não lhe faltava nem línguas, nem lábios
A luxúria, sua amiga e seu carrasco
Lhe fazia companhia nas noites de sábado
Lhe trespassava o corpo como oferenda à Baco
E por fim, como castigo, o levava ao merecido caos.

Mentia aos homens com a naturalidade dos desesperados
Sedento por euforia e sorrisos vagos
Por tudo aquilo que o fazia esquecer do próprio fracasso
Mentia-se e letargiava-se como todos os homens fracos
Aqueles que fogem do amor, por becos, como ratos.